Cliché
Ela caminhava com ar blasé pelos corredores humanos daquela festa. Há algum tempo havia se dado conta de que era uma mulher bonita, mas não era dessas que chamava atenção com facilidade. Circulava impunemente, com seu vestido de modelo discreto, apesar de vermelho. Levava uma taça na mão com vinho branco. Ou seja: não havia nada de extraordinário naquela cena. Ela estava sozinha, nem entediada, nem cheia de expectativas, apenas aproveitava a festa como deveria ser. Numa determinada hora, levantou os olhos e viu aquele rapaz que julgou imediatamente ser a criatura mais linda da festa. Jeito despojado, cabelo longo preto e liso preso num rabo de cavalo, cavanhaque muito bem desenhado, traços finos no nariz e nos olhos. Subitamente, a mulher pôde sentir o cheiro de seu próprio sexo e sentiu um calor incendiar seu rosto. No chão, viu pingar uma gota que brotou de sua buceta encharcada e ela decidiu que chamaria atenção daquele homem.
Começou a fazer tipo, mexeu nos cabelos, bebericou de maneira exagerada, olhou intensamente por um bom tempo, mas o sujeito não parecia se dar conta de sua existência. Ela tinha certeza de que é porque ele ainda não a tinha visto, pois se visse, teria gostado dela. Resolveu tirar a prova e foi para perto dele, puxar assunto sem cerimônia. Funcionou. Conversaram amenidades e em poucos segundos estavam trocando um beijo em frente à janela lateral, longe do centro das atenções. Um beijo morto, ela achou, mesmo tendo a mão dele muito firme em sua cintura. Logo ele buscou a intimidade de seu pescoço, em seguida sua orelha, sugerindo algum outro lugar mais calmo. Foram para um canto escuro do jardim.
Sem pensar duas vezes, ele mergulhou a mão sob sua roupa, enquanto a beijava apressadamente. Ela não sentia mais vontade de fazer ou impedir nada. Sentia apenas gestos mortos e o toque daqueles dedos parecia encontrar apenas sua pele gelada. Ele achou tudo aquilo suficiente para afastar a calcinha gentilmente para o lado e saltar por entre suas pernas. Ela ainda tentou lhe dar um beijo cálido, segurando seu rosto entre as duas mãos em concha. Mas era tarde, ele teve um gozo baixo.