Relaxe, garota!
Caminhava de braços cruzados de tão mau-humorada. Estava assim: uma barreira para o mundo. Seus passos eram largos e velozes, queria logo desaparecer da vista das pessoas e que elas sumissem também. Curiosamente, não sabia o que era. Só havia essa raiva não canalizada. A mulher que andava na sua frente tinha os cabelos presos num longo rabo-de-cavalo dourado. O cabelo descia em cachos bem definidos, parecendo desses anjos de desenho romântico. Deu-lhe um estalo e ela não pensou duas vezes:
CADELAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!
Segurou com toda força o rabo de cavalo da mulher e foi puxando em direção ao chão. A outra, pega desprevenida, ainda tentou segurar os próprios cabelos para diminuir a dor do puxão. Tentava apenas se defender daquele ataque frenético, mas quando começou a apanhar, revidou também. Deu alguns gritos de socorro, mas aquela maluca estava sobre ela, estapeando seu rosto, dando socos incertos. Ela sentia dor e indignação.
Com o sangue quente, ela batia sem parar. A mulher de rabo-de-cabalo se debatia, machucava ela também. Conseguiu levar a mão a uma de suas orelhas e arrancou-lhe o brinco. Mesmo sentindo a pele rasgar e a blusa ensopar, ela não parou. As unhas da outra arranhavam a pele do seu braço, do seu pescoço e até do seu rosto. Ela seguia esmurrando, hora a cara, hora o peito.
Ao redor as pessoas iam se aglomerando, mas ninguém ajudava. Os homens riam, alguns até apostavam dinheiro pouco. As mulheres atiçavam. Ninguém sabia o motivo da briga, mas é coisa rara esse tipo de disputa, por isso todo mundo assistia, aguardando o instante do abraço final. Havia gritos como numa arena!
Cansada e já bem machucada, a mulher parou percebendo que seu mau-humor havia passado. Recebeu ainda mais dois golpes no rosto, e levantou meio zonza. Sem mudar a expressão do rosto, estendeu a mão à adversária, que olhava assustada e retraída, com a pele macerada. Não aceitou a mão estendida, permaneceu no chão. A outra mulher então apanhou seus pertences - um casaco, o guarda-chuva e a bolsa espalhados bem próximos - atravessou a pequena multidão e seguiu pelo mesmo caminho que vinha antes. Agora com passos mais leves.
SEXO E MTV
Puxei você pela mão e lhe trouxe para meus braços. Você não hesitou nem por um instante e logo estávamos emaranhados no sofá da minha casa. Entre beijos nos perdemos por horas da madrugada. Todas as luzes apagadas e a TV ligada como abajur. Com essa luz azul, seu rosto fica ainda mais bonito. Luz intermitente, coisa de cinema. Seus olhos ligados aos meus e minha atenção em seu sorriso. As músicas que passam são muito boas, nos fazem ainda mais próximos: Smiths, REM, baladas pop e algum grunge perdido. Vez por outra suspiramos lembrando que boas músicas não se fazem mais, uma bobagem saudosista. Nos consolamos juntos em nosso abraço. As paredes dançam no ritmo das imagens velozes, que contam novas histórias a cada cinco minutos. Confundo seu rosto e as vozes que saem da tela. Peles próximas esquentam demais. Então suspendi sua camisa...
... e finalmente me senti em casa.